domingo, 27 de fevereiro de 2011

Zafenate faz reggae do bomImprimirE-mail
Zafenate - Nando Reis









(São Paulo, BR Press) - O reggae do bom da banda paulistana Zafenate ainda é incipiente, mas se depender das letras cheias de mensagens conscientizadas e ritmo contagiante, já tem lugar garantido no showbis. Na última apresentação do grupo, na abertura do show do franco-espanhol Manu Chao, na capital paulista, foi possível perceber a humildade, a espiritualidade e a paixão pela música que subiram ao palco junto com a banda. Atualmente, estão gravando o primeiro disco, que deve sair em breve e conta com a produção do músico Fernando Nunes, ex-baixista de Cássia Eller e o atual de Zeca Baleiro.
  O vocalista Theodoro Reis - filho do Titã Nando Reis - respondeu às perguntas abaixo, mas fez questão de frisar que apenas sintetizou as idéias da banda, depois de um bate-papo com todos os integrantes. Na entrevista, ele falou sobre escolha do nome Zafenate, reggae, mercado musical, letras conscientizadas e responsabilidade por ter como pai um músico já consagrado.

  Como a banda foi formada e por que esse nome?
Theodoro Reis - A banda foi formada em meados de 2002, através da reunião de amigos que já faziam um som juntos informalmente. O nome foi retirado de uma história primitiva que está presente na Bíblia, no Alcorão e, possivelmente, em outras fontes mais antigas. Zafenate é como o faraó do Egito chamou José, um dos doze filhos de Jacó, após este interpretar seu sonho no qual previu que recairiam sobre o Egito sete anos de fartura com esplêndidas colheitas e, em seguida, sete anos de miséria e fome devido a uma grande seca. Escolhemos esse nome por dois motivos: primeiro porque José se tornou o responsável por organizar o povo e a produção agrícola do país, de modo que pudesse enfrentar com segurança os tempos de agruras. Hoje, na era do aquecimento global, com extrema desigualdade social, fome e miséria, consideramos muito importante que a sociedade se organize coletivamente para enfrentar as turbulências. A música é o nosso instrumento para sensibilização e união das pessoas em torno das questões que consideramos essenciais para toda a humanidade. Em segundo lugar, porque José, além de ter sido um homem muito habilidoso nas questões práticas, era extremamente espirituoso e dava muita importância aos sonhos, tendo se tornado um exímio intérprete. Sua história transcende fronteiras e religiões. Resumindo: o nome da banda significa "preservador da vida e conhecedor das coisas ocultas".
Qual a previsão para a data de lançamento do primeiro CD do grupo?
Theodoro Reis - Estamos na fase final de gravação e acredito que o CD será lançado até maio. Por enquanto, o público pode conferir o que já está pronto na nossa página no MySpace.
O que o reggae representa na vida de todos os integrantes? É apenas o que caracteriza a sonoridade da banda ou faz parte de uma coisa maior na vida de vocês?
Theodoro Reis - O reggae tem sua raiz na fusão do Nyabinghi, um ritmo tribal extremamente simples e universal, pois reproduz as batidas do coração, com a música americana que era ouvida nas rádios da Jamaica: rock, soul e blues. Além disso, une às batidas lentas e calmas, mensagens de caráter político e revolucionário ao mais puro amor romântico e pacifismo. Para nós, o reggae é mais uma das faces da música, e a música é o modo como o todo se manifesta através de nós. Porém, nosso som não é somente reggae, buscamos fundir tudo aquilo de que gostamos.
Com qual músico/artista que influenciou o som da banda vocês gostariam de fazer uma participação especial, seja em show ou em CD? Por quê?
Theodoro Reis - Gostaríamos muito de gravar com o Manu Chao, pois nos identificamos com sua mensagem universal, que mescla diversas línguas e ritmos. Gostamos bastante também do BNegão, com quem já tivemos a oportunidade de tocar juntos em 2007, na ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP). Outro sonho é gravar uma música com o Calypso e, quem sabe, até ter uma faixa produzida pelo próprio Chimbinha.
Como o mercado musical abriu as portas para vocês? Foi um processo difícil? A banda tem vínculo com alguma gravadora?
Theodoro Reis - Estamos há oito anos juntos e, nesse tempo, angariamos alguns fãs bastante fiéis e também fizemos muitos contatos viajando por aí com nossa kombi, principalmente no meio underground. Outro fator que tem influenciado na nossa inserção no mercado é o fato de eu ser filho do Nando Reis. Primeiro, porque desde cedo conheci muitas pessoas do meio e que hoje tem nos ajudado bastante. Isso está nos permitindo gravar um CD de qualidade profissional com orçamento amador. Depois, porque sabemos como o mercado funciona, se você é filho de alguém famoso não importa se o seu som é bom ou ruim, o que importa é que você pode dar ibope. Por isso, sempre nos preocupamos em fazer valer as portas que temos abertas para nós, afinal de contas muitas bandas boas não têm as chances que estamos tendo. Por outro lado, a cobrança também é maior, temos um padrinho forte que é muito respeitado, então estávamos esperando o momento em que nossa música estivesse num patamar legal para dar as caras. Acho que essa hora chegou. Mesmo assim tem sido difícil, não temos gravadora e para nos sustentar temos de trabalhar também em outros ramos, além da música.
Quais são as sonoridades mais fortes que podem ser percebidas na produção musical de vocês?
Theodoro Reis - A lista é grande e não sei se todas essas influências podem ser percebidas no nosso som, mas de alguma forma elas estão lá: Gilberto Gil, Bob Marley, Michael Jackson, Stevie Wonder, Pantera, Paralamas do Sucesso, Rage Against The Machine, Titãs, Black Alien, Fugees, Edson Gomes, Felá Kuti, Calypso, Rick James, Nação Zumbi, Tião Carvalho, Luiz Gonzaga, The Congos, Burning Spear e por aí vai. Gostamos de tudo: rap, reggae, runk, heavy metal, música caipira, brega, valsa, samba, polca, funk, soul, MPB, ritmos regionais brasileiros... Além, é claro, da forte influência que sofremos das bandas da nossa geração, com as quais dividimos o palco algumas vezes, como Ukiemana, Filhos da Terra, Ambulantes, Action Taken, Trupe Chá de Boldo e Julgados Culpados.
De quem são as composições das letras, cheias de mensagens e consciência social e política?
Theodoro Reis - Todos na banda compõem. No nosso atual repertório há mais letras minhas e do Robson, mas também tocamos criações do Lucas e do Fábio. Acho que todas as nossas músicas são na verdade de amor, mesmo as mais de protesto. No fundo, é tudo uma expressão do ser.
O reggae, muitas vezes, é diretamente associado ao uso da maconha. Vocês se incomodam com esse rótulo e preconceito?
Theodoro Reis - O reggae é para todos, ele está inserido nas favelas, na burguesia, nas igrejas evangélicas, nos terreiros. É uma música universal que está acima das opções individuais de cada um.
Como é fazer música numa época em que a padronização e a homogeneização imperam?
Theodoro Reis - Para nós, fazer música é uma coisa natural. Tocamos porque assim nos sentimos mais plenos e realizados. Não fazemos música para que se pareça com alguma que já existe e nem para que se diferencie de qualquer uma que já tenha sido criada. É evidente que muita coisa que é veiculada pela mídia foi feita com intenção totalmente mercadológica. Isso contribui para a padronização, mas há também boa música tocando nas rádios comerciais. O desenvolvimento tecnológico tornou mais fácil a gravação de um CD, e o acesso à informação universalizou mais as referências. Apesar dos hits enlatados, a criatividade musical ainda é reconhecida e favorecida pelos novos meios.
Como foi a apresentação na abertura do show de Manu Chao, em São Paulo, no último dia 11/02?
Theodoro Reis - A apresentação foi ótima e o público nos recebeu muito bem. A noite foi maravilhosa e nós realizamos um sonho.
O MySpace (e a internet em geral) é uma ferramenta importante não só para músicos independentes, mas também para músicos que têm uma estrutura melhor. Além da internet, quais são as outras formas de se promover e divulgar o trabalho na música?
Theodoro Reis - O melhor meio para se promover e divulgar seu trabalho continua sendo a mídia tradicional: o rádio e a televisão. Acredito que a internet ainda vá superá-los em um futuro não muito distante, porém não há nada como fazer bons shows e um bom CD, pois a maior publicidade de uma banda são seus fãs.
Onde o Zafenate fará os próximos shows?
Theodoro Reis - Em São Lourenço, Minas Gerais, na festa Tribos, nos dias 06 e 07/03. Vai ser um festival bem bacana, onde estarão mesclados diversos estilos musicais e, como o nome propõe, diversas tribos.
O grupo é formado por Theodoro Reis (violão e vocal), filho de Nando Reis, Fábio Salém (contrabaixo), Rafael Werblowsky (bateria), Lucas Ciola (guitarra e vocal), Robson Gonçalves (vocal), Ana Flor de Carvalho (vocal) e Denizard Basilio (teclados). Algumas canções estão disponíveis para audição na página pessoal da banda no MySpace.